quarta-feira, 1 de outubro de 2008

Contra a imposição do voto

Os recentes escândalos da política brasileira provocam reações variadas por parte de setores da sociedade. O Conselho de Pastores Evangélicos de Bauru, por exemplo, está realizando uma campanha de incentivo ao voto consciente, destinada aos eleitores da cidade. Eles alertam para o fato de que o voto não pode ser imposto por ninguém, nem mesmo pelos pastores aos fiéis.

Além da distribuição de milhares cartilhas com orientações aos fiéis, os líderes religiosos também promoverão um encontro, no dia 29 deste mês, com os candidatos bauruenses que disputarão as eleições de outubro. Os interessados em participar do encontro devem procurar o Conselho até 25 de agosto.

Segundo Edson Valentim, diretor de eventos da entidade, a idéia não é induzir a escolha dos eleitores. “Todos são livres para optar. O importante é que fiquem atentos aos nomes e partidos”, explica ele, que é pastor da Igreja Batista Bereana.

Os limites entre fé e política têm preocupado os integrantes do conselho, que estiveram ontem no Jornal da Cidade. “Muitos fiéis pensam que devem votar apenas em candidatos evangélicos”, diz Levi Momesso, presidente da entidade e pastor da Igreja O Brasil Para Cristo.

Para ele, a visão é errônea. “O fato de um candidato freqüentar a mesma igreja que o eleitor não gera uma obrigação na hora do voto. O importante é que o evangélico escolha pessoas de caráter e comprometidas com o bem do povo, independente da religião que professem”, ressalta.

Outra problema apontado pelos diretores do Conselho é a postura que algumas lideranças religiosas assumem em época eleitoral. “Infelizmente, muitos pastores ainda têm o costume de indicar em quem os fiéis devem votar, como se fosse algo que pudesse ser imposto”, lamenta Valentim.

De acordo com o diretor, o Conselho tem orientado seus membros a rejeitarem a prática. “A função do pastor é educar para cidadania, não controlar a mente das pessoas que freqüentam a igreja”, enfatiza.

Nos últimos tempos, a mistura entre fé e política tem sido perigosa. O episódio da máfia das ambulâncias, por exemplo, contou com envolvimento de diversos deputados ligados à chamada bancada evangélica, acusados de participar de suposto esquema de compra de ambulâncias superfaturadas pelo Ministério da Saúde.

Entre os diretores do Conselho de Pastores, que possui quase 50 filiados e representa cerca de 40 igrejas de Bauru, a indignação é geral. “É revoltante saber que essas pessoas usaram a bandeira evangélica para tirar proveito da boa fé dos fiéis”, desabafa Pedro Peres, líder religioso da Comunidade Cristã Nova Aliança.

Para Gilson Gomes, pastor da Igreja Batista Nova Esperança, políticos evangélicos envolvidos em escândalos de corrupção deveriam ser retirados para sempre da vida pública. “Pessoas desse tipo não têm capacidade de representar segmento algum, seja cristão ou ateu”, afirma.

O Conselho de Pastores redigiu um manifesto sobre o envolvimento de parlamentares evangélicos no escândalo dos sanguessugas, que foi distribuído à imprensa no final do mês passado e publicado na página 2 do JC. “Nossa intenção, como evangélicos, foi pedir perdão ao povo brasileiro pelos crimes dessas pessoas que, de certa maneira, foram eleitas com nosso voto”, diz Valentim.

Ele e os demais diretores da entidade fazem questão de ressaltar que o escândalo contou a participação de membros de outras religiões. “Na verdade, aqueles políticos eram evangélicos no discurso, mas não na postura”, diz Nilton Paulo Lira Baro, pastor da Comunidade Cristã Vineyard.

Apesar de terem a fé como principal característica, os pastores do Conselho mostram-se descrentes em relação às mudanças positivas que as eleições de outubro possam trazer à política brasileira. “As transformações de que o País precisa são tão profundas, que só podemos esperar que Deus intervenha para que ocorram melhoras”, comenta Valentim.

Mesmo desanimados em relação à política partidária, os integrantes do Conselho de Pastores ressaltam a importância de que os fiéis votem de forma consciente. “Já que o dever cívico chama, o melhor é tentar optar por pessoas de caráter que tragam benefícios à comunidade”, completa o líder evangélico.

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